Recentemente eu estava lendo um artigo na internet que falava sobre a influência da tecnologia na vida das pessoas, sobretudo das crianças e percebo o quão prejudicial ela pode se tornar se não for bem utilizada. É fantástico ver como ela facilita a comunicação em todos os sentidos. Podemos falar com as pessoas que estão do outro lado do mundo sem sair do lugar. As notícias viajam na velocidade da luz e temos novos leques de oportunidades que se abrem todos os dias. Mas com toda essa tecnologia, temos pessoas que não conseguem se relacionar, a menos que haja uma tela de computador que faça o intermédio. Vemos pais omissos e ausentes, por gastarem mais tempo com a internet ou com a TV e menos tempo com seus filhos. Isso sem falar das crianças com péssimos vícios de linguagem e preguiçosas para pensar. Elas se entediam facilmente e é raro uma criança se interessar em abrir um livro de histórias infantis. A mídia traz tudo pronto e mastigado. Aos poucos estamos vendo se formar uma geração de analfabetos que criarão uma nova língua portuguesa, cheia de redundâncias, abreviações e gerúndios.
Há alguns anos, eu trabalhei numa empresa e precisei de um assistente, então o meu gerente pediu que eu entrevistasse alguns adolescentes do projeto jovem aprendiz para esse fim. A primeira coisa que pedi para a selecionadora da agência responsável foi que me mandasse adolescentes que soubessem bem a língua portuguesa, pois o departamento onde eu trabalhava, constantemente recebia visita de clientes, fornecedores e os colegas das filiais de outros países. Essas pessoas observavam muito nossa postura, sobretudo a fluência do nosso próprio idioma e muitas vezes, precisávamos nos comunicar por e-mail. Pois bem, no dia da entrevista, recebi cerca de 10 adolescentes e a primeira coisa que lhes pedi, foi que fizessem uma redação com o tema: Quem sou eu? Por que devo ser escolhido? Quando eu peguei as redações tive vontade de chorar. Alguns nem consegui ler, pois a letra era indecifrável. Outros tinham gravíssimos erros de grafia e pontuação. Consegui uma adolescente somente na terceira leva e no decorrer do trabalho, fui vendo que não se distanciava tanto dos outros casos. Dei um livro pra essa garota ler e ela me enrolou por mais de seis meses e, até onde eu sei, ela nunca terminou essa leitura. Na década de 80 as crianças liam e devoravam as obras de Monteiro Lobato e a coleção Vagalume. Essa adolescente me disse certa vez que nunca tinha ouvido falar nessa coleção! Caramba!!!
Gasta-se tempo demais com o Orkut, MSN, sites de relacionamentos, pornografias e jogos violentos. Por que não usar essa ferramenta tão rica, para aumentar o conhecimento? Acho que todos os pais deveriam monitorar o tempo e a qualidade que seus filhos ficam na internet. Acho que deveria ser obrigatório que filhos fossem crianças que gastassem energia. Quando eu era criança na década de 80, brincávamos de pega-pega, corre cotia, rouba bandeira, bolinha de gude, fabricávamos nossas próprias pipas. Brincar na rua, matar a sede na mangueira da casa do amigo que morava mais próximo, era a rotina da molecada. A criançada se organizava para brincarem juntas. Hoje, se falar de brincarem juntas com jogos manuais, provavelmente sairá briga, pois a individualidade tem crescido junto com elas. O computador faz o papel do adversário num jogo e chegar até a fase final daquele jogo sangrento passa a ser o objetivo do menino que só pode brincar dentro de casa porque a rua é perigosa demais pra ele. As crianças não gastam energia e ficam cada vez mais obesas. Não se aprecia mais o sol ou o vento no rosto. Andar de bicicleta é prazer raro para a criança que não mora num condomínio fechado.
Que esses prazeres não sejam roubados dos nossos filhos. Que tenhamos a sabedoria pra educá-los com a mesma firmeza e amor que recebemos. Que eles nos respeitem só de olhar pra eles e que nos amem quando dissermos não.
Lembro perfeitamente desse passado não tão distante, mas cada vez mais raro. Que ele venha à minha memória quando eu for mãe...